Ópera de três atos do compositor Giacomo Puccini, trabalhada em diversos contextos: Mário, do âmbito artístico; Tosca, operístico; Scarpia (e Angelotti), político. E um subtema comum entre eles: a fé.
Assim como em Turandot, a protagonista tem o domínio do amor das principais figuras masculinas, é forte nas palavras e é bastante desejada (a figura da beleza quase(?) inalcançada) - essas características principais nas mulheres com certeza é uma repetição marcante de Puccini em suas obras; mas o que difere Tosca da princesa de Pequim é porque a primeira é totalmente entregue ao amor e à paixão, enquanto a segunda é fria e frustrada.
O que mais me chamou atenção nessa obra foi a religiosidade nela presente: no primeiro ato, nos duetos entre Mario Cavaradossi e Floria Tosca, vemos a preocupação destes perante Madona. Numa crise de ciúmes e promessas de amor, ambos inicialmente parecem não se importar que estão na igreja, mas ao se darem conta, resolvem deixar o que tem pra resolver fora dali por questão de respeito à imagem. No segundo ato, tem-se de um lado Scarpia desmerecendo os valores de Deus (já que pra ele conquistar Tosca é mais excitante) e Tosca do outro sentindo-se injustiçada do porquê de tanto sofrimento se a vida inteira ela foi só dedicação à igreja. Onde estaria Deus? Repare na cena abaixo [Obs.: Cheguei a lembrar de uma frase célebre de Chico Buarque/Tom Jobim: “Enfim, hoje na solidão ainda custo a entender como o amor foi tão injusto a quem só lhe foi dedicação”].
(Monólogo de Scarpia, início do segundo ato)
O terceiro ato, por fim. Um final não tão inesperado para os mais atentos que entenderam a sacada da ordem de execução “à La Palmieri”. E, se não entenderam, ao final da ópera: a surpresa.
A personalidade de Tosca oscila entre o fraco e o forte: respectivamente falando, no primeiro caso, quando ela se sente abandonada por Deus ao ter de tomar uma decisão difícil, quando é enganada pelos pensamentos maldosos de Scarpia tentando envenená-la contra Mário e quando ela trai a confiança deste ao revelar o esconderijo de Angelotti; no segundo caso, quando determinada em nome do amor, ela revela o esconderijo para não ver seu amado sofrendo na sala de tortura e, quando por fim, vemo-la vingando-se de Scarpia.
No contexto político: Napoleão e a briga de classes. Isto é fato quando Mario comemora a vitória de Napoleão; esse assunto poderia ter sido mais detalhado, mas como o objetivo desta ópera não é focado totalmente na política, logo isso é esquecido e desviado de volta ao contexto principal (o romance) quando Scarpia parece pouco se importar com quem perdeu/ganhou a batalha, já que naquela altura do campeonato Tosca já ocupava o desejo número um do vilão. O contexto político pode não ter sido muito óbvio aqui, mas para época foi de maior relevância (veja este trecho extraído do site Wikipedia):
“Quando a ópera estreou, a 14 de janeiro de 1900, a atmosfera política na Itália era tensa, com muita agitação revolucionária de caráter socialista e anarquista contra a monarquia e a política reacionária do rei Umberto I, que seria assassinado em Monza seis meses mais tarde. A rainha e o primeiro ministro assistiram à estréia, e por essa razão alguns temiam um ataque terrorista contra o teatro. Tosca era uma ópera profética do século que estava para começar. É uma ópera sangrenta, e este seria um século sangrento. Scarpia parece prenunciar Hitler, Stalin e outros ditadores. Quando Tosca salta para a morte, no momento final da ópera, parecemos ouvir o riso de Scarpia, vitorioso mesmo depois de morto. Quem vence, afinal? As forças do mal ou as forças do bem? A pergunta permanece sem resposta. "Perante Deus, Scarpia. Perante Deus.”
Essa versão é com Luciano Pavarotti (Cavaradossi), Shirley Verrett (Floria Tosca) e Cornell Macneil (Scarpia) no elenco. Regida por James Levine, realizado no MET, em 1978.
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