quinta-feira, 16 de setembro de 2010

● Pagliacci (1994)

(Luciano Pavarotti interpretando o palhaço Canio. Creio que esta foi uma das apresentações de Pavarotti que, além de estar perfeito (como sempre) na parte vocal, destacou-se muito também em sua parte cênica.)


Ópera trágica em dois atos de Ruggero Leoncavallo.

"Uma vez um homem foi procurar ajuda ao psiquiatra por queixar-se de depressão e sentir-se vazio; eis que o médico o receita 'Vá para a cidade! Pois o circo estará lá esta noite. Vá se divertir um pouco!'. O paciente, frustrado, levanta-se e, antes de sair do consultório, olha para o médico e diz 'Mas doutor... eu sou o palhaço!'"

É com base nesse apócrifo que a ópera Pagliacci se baseia.

Iniciado por um prólogo, o personagem Tonio vem nos avisar que esta não é mais uma história de palhaço, mas a DO palhaço: "(...)Vocês ouvirão gritos de agonia e dor; procurem perceber, não pelos nossos pobres trajes, mas pelas nossas almas, que somos homens de carne e sangue respirando o ar deste mundo solitário... assim como vocês!"

(O Prólogo)


PRIMEIRO ATO:

A chegada do circo parece alegrar a todos num pequeno vilarejo. Canio, o palhaço-líder do grupo, traz de volta a sua trupe: Nedda, sua esposa, Tonio e Peppe. Após a recepção calorosa do vilarejo, que recebem a notícia que às onze da noite irão assistir a uma peça, o palco fica apenas com os personagens circenses.

Todos eles parecem estar insatisfeitos com alguma coisa. Enquanto Canio sai de cena, vemos o triste monólogo de sua esposa, num momento de nostalgia e frustração, criticando o temperamento do seu marido. Logo após, entra em cena Tonio, que após revelar que a ama, tenta estuprá-la. São nesses rápidos intervalos que vemos o que realmente se passa na cabeça dos personagens: todos são vazios. Na verdade, aqui não há mocinhos e vilões; pode-se inicialmente criticar o comportamento de Tonio na tentativa de estupro à Nedda; mas esta não é fiel ao seu (violento) marido Canio, que havia a tirado da miséria no passado, dando lhe comida, emprego e, por quê não dizer o "casamento". E grande parte do comportamento de Tonio pode ser explicado: sozinho, Tonio se sente feio e desinteressante e por passar grande parte do tempo com a trupe, acaba criando nela seu único universo. E quanto mais Nedda debocha de seu sentimento, mais revoltado ele fica.

(Nedda nos braços de Silvio, declarando-se e planejando a fuga)

Amargurado por não conseguir Nedda, Tonio resolve dizer a Canio que sua esposa planeja fugir com um homem que mora na vila onde será apresentado o espetáculo. Incrédulo, vemos o incrível monólogo de Canio, uma das árias mais famosas dessa ópera: Recitar... Vesti la Giubba.

Recitar! Mentre preso dal delirio
non so più quel che dico e quel che faccio!
Eppure... è d'uopo... sforzati!
Bah, seti tu forse un uom?

Tu sei Pagliaccio!

Vesti la giubba e la faccia infarina.
La gente paga e rider vuole qua.

E se Arelcchin t'invola Colombina
ridi, Pagliaccio e ognun applaudirà!
Tramuta in lazzi lo spasmo ed il pianto;
in una smorfia il singhiozzo e 'l dolor...

Ridi, Pagliaccio, sul tuo amore infranto,
ridi del duol che t'avvelena il cor!


Recitar,enquanto tomado pelo delírio
não sei mais aquilo que digo e aquilo que faço.
Todavia é necessário. Esforça-te! Vai!
És tu talvez um homem?

Tu és Palhaço.

Veste o casaco e a cara enfarinha.
O povo paga e quer rir aqui.

E se Arlequim te rouba a Colombina,
ri Palhaço e cada um aplaudirá.
Muda em piadas o espasmo e o choro,
numa careta o soluço e a dor.

Ah! Ri Palhaço, sobre o teu amor partido.
Ri da dor que te envenena o coração!






















SEGUNDO ATO:


Por fim, a população aparece para assistir ao espetáculo da história de Colombina. Aqui a história se mistura no palco, dando diálogos de duplo sentido (realidade x ficção). E detalhe: a escolha da apresentação não poderia ter sido melhor: Colombina, Pierrot e Arlequim. Canio, já sabendo do que sua esposa está tramando, força-a em palco a revelar o nome do homem que a levará consigo na fuga. Todos da platéia estão admirados com a a realidade em que os atores estão atuando (até comentam ''parece tão real"). E o final, por fim, só assistindo.


A versão da ópera que você observa nas screeners é com Luciano Pavarotti (Canio), Juan Pons (Tonio) e Teresa Stratas (Nedda). Regida por James Levine, dirigida por Franco Zefirelli e realizado no Metropolitan Opera (NY), em 1994.

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