domingo, 26 de setembro de 2010

● Elektra (1989)


(Eva Marton no papel de Elektra)



Ópera de um ato de Richard Strauss.

A história é teoricamente bem simples: Elektra é uma mulher que passa a viver perturbada depois da morte de seu pai (Agamenon) assassinado covardemente a mando de sua mãe (Klytämnestra) e o amante dela (Egisto). Elektra passa viver trancada dentro do palácio com sua irmã, Chrysotemis, que apesar de depreciativa, ainda acredita na felicidade e até sonha em casar e ter filhos.

Mas Elektra, cada vez mais consumida pelo ódio à sua mãe e ao seu padrasto, num estado de devaneio, planeja finalmente matá-los na calada da noite. Enquanto planeja o assassinato, a história desenrola-se através dos diálogos com sua irmã –e é aí onde a parte polêmica entra, o incesto e lesbianismo-. Ainda há quem discorde de que houve incesto, que isso não passe de uma cultura histórica, que ganhou dimensão maior com o Complexo de Elektra, de Jung. A peça em si não se aprofunda nesse aspecto, mesmo a gente podendo inferir algumas coisas no modo como a Elektra olha pra sua irmã quando esta está em seu monólogo sensualizando o casamento e também quando há aquele diálogo com excesso de toque entre elas. Leve em conta também a seguinte coisa: Elektra é uma mulher visivelmente perturbada, abatida, seu visual excessivamente depressivo a definia como morta-viva e sua irmã, apesar de tudo, ainda conservava-se muito bem. E há quem diga que toda essa sede de vingança se dá ao fato de Elektra ter sentido desejo por Agamenon quando ele era vivo. Uma família que visivelmente sofria de problemas internos desde há muito tempo.


(Klytämnestra explicando os pesadelos que sofre)

(Monólogo, um dos momentos de devaneios de Elektra. "Allein! Weh, gaiz allein!")

Há de destacar a bravura de qualquer intérprete que pegue esse papel principal (no meu caso, o da Marton). A ópera tem aproximadamente 100 minutos de duração e grande parte dos diálogos são ditos pela protagonista (lembre-se que é uma ópera de ato único); com um pouco mais de uma hora de duração, eu ficava preocupado não somente com a Elektra-personagem, mas com Elektra-atriz, pois requer muito fôlego pra recitar aqueles diálogos intermináveis em alemão! Marton corria de um lado do palco para outro, fazia forças e expressões, enrolava-se em cordas, debatia-se, CHORAVA bastante em cena (por diversas vezes!) e, na última cena, aquele delírio final em que possuída loucamente pela vitória do assassinato cruel, Elektra dança até cair morta.



(O reencontro. "Orest! Orest!")

Esta gravação é com Eva Marton (Elektra), Brigitte Fassbaender (Klytämnestra), Cheryl Studer (Chrysosthemis), James King (Egisto) e Franz Grundheber (Orest). Regida por Claudio Abbado, realizada no Vienna State Opera, em 1989.

Uma fantástica obra, sem dúvidas, que merece ser vista e revista por diversas vezes; e a cada detalhe que eu puder inferir, voltarei aqui para acrescentar essas informações.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

● Pagliacci (1994)

(Luciano Pavarotti interpretando o palhaço Canio. Creio que esta foi uma das apresentações de Pavarotti que, além de estar perfeito (como sempre) na parte vocal, destacou-se muito também em sua parte cênica.)


Ópera trágica em dois atos de Ruggero Leoncavallo.

"Uma vez um homem foi procurar ajuda ao psiquiatra por queixar-se de depressão e sentir-se vazio; eis que o médico o receita 'Vá para a cidade! Pois o circo estará lá esta noite. Vá se divertir um pouco!'. O paciente, frustrado, levanta-se e, antes de sair do consultório, olha para o médico e diz 'Mas doutor... eu sou o palhaço!'"

É com base nesse apócrifo que a ópera Pagliacci se baseia.

Iniciado por um prólogo, o personagem Tonio vem nos avisar que esta não é mais uma história de palhaço, mas a DO palhaço: "(...)Vocês ouvirão gritos de agonia e dor; procurem perceber, não pelos nossos pobres trajes, mas pelas nossas almas, que somos homens de carne e sangue respirando o ar deste mundo solitário... assim como vocês!"

(O Prólogo)


PRIMEIRO ATO:

A chegada do circo parece alegrar a todos num pequeno vilarejo. Canio, o palhaço-líder do grupo, traz de volta a sua trupe: Nedda, sua esposa, Tonio e Peppe. Após a recepção calorosa do vilarejo, que recebem a notícia que às onze da noite irão assistir a uma peça, o palco fica apenas com os personagens circenses.

Todos eles parecem estar insatisfeitos com alguma coisa. Enquanto Canio sai de cena, vemos o triste monólogo de sua esposa, num momento de nostalgia e frustração, criticando o temperamento do seu marido. Logo após, entra em cena Tonio, que após revelar que a ama, tenta estuprá-la. São nesses rápidos intervalos que vemos o que realmente se passa na cabeça dos personagens: todos são vazios. Na verdade, aqui não há mocinhos e vilões; pode-se inicialmente criticar o comportamento de Tonio na tentativa de estupro à Nedda; mas esta não é fiel ao seu (violento) marido Canio, que havia a tirado da miséria no passado, dando lhe comida, emprego e, por quê não dizer o "casamento". E grande parte do comportamento de Tonio pode ser explicado: sozinho, Tonio se sente feio e desinteressante e por passar grande parte do tempo com a trupe, acaba criando nela seu único universo. E quanto mais Nedda debocha de seu sentimento, mais revoltado ele fica.

(Nedda nos braços de Silvio, declarando-se e planejando a fuga)

Amargurado por não conseguir Nedda, Tonio resolve dizer a Canio que sua esposa planeja fugir com um homem que mora na vila onde será apresentado o espetáculo. Incrédulo, vemos o incrível monólogo de Canio, uma das árias mais famosas dessa ópera: Recitar... Vesti la Giubba.

Recitar! Mentre preso dal delirio
non so più quel che dico e quel che faccio!
Eppure... è d'uopo... sforzati!
Bah, seti tu forse un uom?

Tu sei Pagliaccio!

Vesti la giubba e la faccia infarina.
La gente paga e rider vuole qua.

E se Arelcchin t'invola Colombina
ridi, Pagliaccio e ognun applaudirà!
Tramuta in lazzi lo spasmo ed il pianto;
in una smorfia il singhiozzo e 'l dolor...

Ridi, Pagliaccio, sul tuo amore infranto,
ridi del duol che t'avvelena il cor!


Recitar,enquanto tomado pelo delírio
não sei mais aquilo que digo e aquilo que faço.
Todavia é necessário. Esforça-te! Vai!
És tu talvez um homem?

Tu és Palhaço.

Veste o casaco e a cara enfarinha.
O povo paga e quer rir aqui.

E se Arlequim te rouba a Colombina,
ri Palhaço e cada um aplaudirá.
Muda em piadas o espasmo e o choro,
numa careta o soluço e a dor.

Ah! Ri Palhaço, sobre o teu amor partido.
Ri da dor que te envenena o coração!






















SEGUNDO ATO:


Por fim, a população aparece para assistir ao espetáculo da história de Colombina. Aqui a história se mistura no palco, dando diálogos de duplo sentido (realidade x ficção). E detalhe: a escolha da apresentação não poderia ter sido melhor: Colombina, Pierrot e Arlequim. Canio, já sabendo do que sua esposa está tramando, força-a em palco a revelar o nome do homem que a levará consigo na fuga. Todos da platéia estão admirados com a a realidade em que os atores estão atuando (até comentam ''parece tão real"). E o final, por fim, só assistindo.


A versão da ópera que você observa nas screeners é com Luciano Pavarotti (Canio), Juan Pons (Tonio) e Teresa Stratas (Nedda). Regida por James Levine, dirigida por Franco Zefirelli e realizado no Metropolitan Opera (NY), em 1994.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

● Tosca (1978)

(a gravação que tenho é esta da capa acima; é circulada livremente por aí na rede Ed2k/Torrent e extraída de um VHS antigo com hardsubs -legendas fixas- em inglês)

Ópera de três atos do compositor Giacomo Puccini, trabalhada em diversos contextos: Mário, do âmbito artístico; Tosca, operístico; Scarpia (e Angelotti), político. E um subtema comum entre eles: a fé.

Assim como em Turandot, a protagonista tem o domínio do amor das principais figuras masculinas, é forte nas palavras e é bastante desejada (a figura da beleza quase(?) inalcançada) - essas características principais nas mulheres com certeza é uma repetição marcante de Puccini em suas obras; mas o que difere Tosca da princesa de Pequim é porque a primeira é totalmente entregue ao amor e à paixão, enquanto a segunda é fria e frustrada.

O que mais me chamou atenção nessa obra foi a religiosidade nela presente: no primeiro ato, nos duetos entre Mario Cavaradossi e Floria Tosca, vemos a preocupação destes perante Madona. Numa crise de ciúmes e promessas de amor, ambos inicialmente parecem não se importar que estão na igreja, mas ao se darem conta, resolvem deixar o que tem pra resolver fora dali por questão de respeito à imagem. No segundo ato, tem-se de um lado Scarpia desmerecendo os valores de Deus (já que pra ele conquistar Tosca é mais excitante) e Tosca do outro sentindo-se injustiçada do porquê de tanto sofrimento se a vida inteira ela foi só dedicação à igreja. Onde estaria Deus? Repare na cena abaixo [Obs.: Cheguei a lembrar de uma frase célebre de Chico Buarque/Tom Jobim: “Enfim, hoje na solidão ainda custo a entender como o amor foi tão injusto a quem só lhe foi dedicação”].


"Por que, Deus, me recompensas desta maneira?"

(Monólogo de Scarpia, início do segundo ato)

O terceiro ato, por fim. Um final não tão inesperado para os mais atentos que entenderam a sacada da ordem de execução “à La Palmieri”. E, se não entenderam, ao final da ópera: a surpresa.

A personalidade de Tosca oscila entre o fraco e o forte: respectivamente falando, no primeiro caso, quando ela se sente abandonada por Deus ao ter de tomar uma decisão difícil, quando é enganada pelos pensamentos maldosos de Scarpia tentando envenená-la contra Mário e quando ela trai a confiança deste ao revelar o esconderijo de Angelotti; no segundo caso, quando determinada em nome do amor, ela revela o esconderijo para não ver seu amado sofrendo na sala de tortura e, quando por fim, vemo-la vingando-se de Scarpia.

No contexto político: Napoleão e a briga de classes. Isto é fato quando Mario comemora a vitória de Napoleão; esse assunto poderia ter sido mais detalhado, mas como o objetivo desta ópera não é focado totalmente na política, logo isso é esquecido e desviado de volta ao contexto principal (o romance) quando Scarpia parece pouco se importar com quem perdeu/ganhou a batalha, já que naquela altura do campeonato Tosca já ocupava o desejo número um do vilão. O contexto político pode não ter sido muito óbvio aqui, mas para época foi de maior relevância (veja este trecho extraído do site Wikipedia):

Quando a ópera estreou, a 14 de janeiro de 1900, a atmosfera política na Itália era tensa, com muita agitação revolucionária de caráter socialista e anarquista contra a monarquia e a política reacionária do rei Umberto I, que seria assassinado em Monza seis meses mais tarde. A rainha e o primeiro ministro assistiram à estréia, e por essa razão alguns temiam um ataque terrorista contra o teatro. Tosca era uma ópera profética do século que estava para começar. É uma ópera sangrenta, e este seria um século sangrento. Scarpia parece prenunciar Hitler, Stalin e outros ditadores. Quando Tosca salta para a morte, no momento final da ópera, parecemos ouvir o riso de Scarpia, vitorioso mesmo depois de morto. Quem vence, afinal? As forças do mal ou as forças do bem? A pergunta permanece sem resposta. "Perante Deus, Scarpia. Perante Deus.

Essa versão é com Luciano Pavarotti (Cavaradossi), Shirley Verrett (Floria Tosca) e Cornell Macneil (Scarpia) no elenco. Regida por James Levine, realizado no MET, em 1978.

sábado, 4 de setembro de 2010

● Turandot (1988)



(Eva Marton, digníssima no papel da princesa Turandot. Nesta cena, do segundo ato, a princesa revela ao estrangeiro do porquê de tanto ódio. No final dessa matéria você poderá ver a letra no idioma original e a tradução)


NOTA:

Turandot foi a última obra do compositor Giacomo Puccini, que não terminou de finalizá-la devido à sua morte.

Essa obra foi finalizada mais tarde por Franco Alfano. Mas o final não agrada a todos... nem a mim.

Para quem não viu a ópera ainda, pule para o parágrafo seguinte, pois este contém spoilers: o final, tão inaceitável pela grande parte dos expectadores de uma maneira geral, se dá nas últimas cenas, quando a princesa vai revelar o nome do príncipe (o nome dele é amor). Puccini que em outras obras manteve àquele paralelismo de que o bom morre bom e o mau morre mau, aqui não condisse. Alfano realmente pegou um grande abacaxi... a melodia já havia sido composta e encaixar um final naquele curto espaço de tempo foi realmente desafiante. Turandot, a fria, a impiedosa, que resistira 90% da peça em não se casar, cedeu-se muito ligeiro ao final belo e feliz. A chave disso tudo deveria ser a morte de Liù, que morreu em nome do amor. Mas em nenhuma outra gravação que ouvi, convenci-me que Turandot mudara de opinião a partir da morte da escrava. E no rápido diálogo que Turandot e Calaf tiveram, não foi o suficiente para mudar a opinião de uma pessoa que carregara tanto ódio por anos. Em 2001, um compositor chamado Berio compôs um final diferente. Mas ainda não tive oportunidade de conhecê-lo.

Se você NUNCA ouviu uma ópera completa (ou mal teve paciência de ver um pedacinho sequer), comece por essa. Procure saber da história. Depois ouça as gravações disponíveis pela web na voz de grandes tenores/sopranos.

Se não domina outro idioma além do português, será necessário fazer a leitura do Libretto (“roteiro” com os diálogos escritos) em português para ver a ópera depois (Clique aqui para ler). Será melhor se você dominar ao menos o inglês –ou outra língua que possua nas legendas disponíveis– pra que se possa assistir a ópera e ler seus diálogos simultaneamente, como num filme legendado.


ENREDO:

Riquíssima em detalhes, a história é trabalhada em diversos planos: o começo enigmático, em que o Mandarim da região local onde se passa a história anuncia que "para se casar com a filha do Imperador, é necessário acertar os três enigmas por ela proposto; caso não consiga desvendá-los, o candidato deverá dar-lhe em troca sua cabeça".

Logo depois surge em cena um homem desconhecido e sua escrava; pouco após, seu filho.


(O estrangeiro, seu pai e a escrava, no reencontro. Início do primeiro ato)

Enquanto no fundo do cenário a correria toma de conta da população local, pois o príncipe da Pérsia havia tentado os três enigmas e errara em um deles e todos esperavam a execução de sua cabeça, à frente havia um diálogo entre pai-filho-escrava. Observe que a população local, apesar de sofrida sob o regimento da tirania de Turandot, também apresenta um vínculo sádico à execuções, pois todos aguardam ansiosos a chegada da lua para ver a cabeça do príncipe da Pérsia exposta ("Perchè tarda la luna?"). Grande parte das conversas é feita por entrelinhas; uma delas é chave principal para entendimento mais na frente da relação do estrangeiro com Turandot. O resto já é teoricamente previsível, mas não menos brilhante. O protagonista, desconhecido, aceita participar do enigma após ver Turandot na execução do Príncipe da Pérsia. O desenrolar da história é muito intenso.




(Finalização do terceiro ato, onde todos aguardam a decisão final de Turandot)

A versão da ópera que você observa nessas screeners (cenas) é com Plácido Domingo, Eva Marton e Leona Ritchell no elenco. Regida por James Levine, dirigida por Franco Zefirelli e realizado no Metropolitan Opera (NY), em 1988.




(Início do Segundo Ato: Ping, Pang e Pong, no discurso sobre a história dos príncipes que já perderam a vida tentando conquistar a princesa Turandot)


(Após o estrangeiro anunciar a todos da cidade de Pequim que não vai revelar o seu segredo, com a belíssima ária "Nessum Dorma", Ping, Pang e Pong ofertam ouro e mulheres belas pra que ele desista da ideia de ficar com Turandot)

("Tu che di gel sei cinta!". Momento em que Liù revela a todos que ama o príncipe há muito tempo... e questiona não entender do porquê de tanta frieza da princesa que não se rende ao amor dele)

("Ché è mai de me". O príncipe, após ficar revoltado com que Turandot acabara de provocar à Liù, acaba revelando seu segredo, deixando a decisão final de se casar por conta da princesa)


Finalizo esta resenha com uma das árias mais belas: "In questa reggia", onde Turandot nos explica do porquê de tanta amargura em seu peito (no segundo ato).


TurandotTurandot
In questa reggia, or son mill'anni e mille,Neste reino, há milhares e milhares de anos
un grido disperato risonò.um grito desesperado ressoou.
E quel grido, traverso stirpe e stirpeE aquele grito atravessou gerações e gerações
qui nell'anima mia si rifugiò!e refugiou-se aqui em minh'alma!
Principessa Lou-Ling,A Princessa Lou-Ling,
ava dolce e serena che regnaviantepassada doce e serena que reinava
nel tuo cupo silenzio in gioia pura,no seu profundo silêncio em pura alegria,
e sfidasti inflessibile e sicurae desfiando inflexível e segura
l'aspro dominio,o escambroso domínio
oggi rivivi in me!hoje revive em mim!
La FollaMultidão
Fu quando il Re dei TartariFoi quando o Rei dos Tártaros
le sette sue bandiere dispiegò.as suas sete bandeiras desfraldou.
TurandotTurandot
Pure nel tempo che ciascun ricorda,No entanto, no tempo que cada um recorda
fu sgomento e terrore e rombo d'armi.Foi um choque e barulho de terror de armas.
Il regno vinto! Il regno vinto!O Reino foi vencido! O Reino foi vencido!
E Lou-Ling, la mia ava, trascinataE Lou-Ling, minha antepassada foi arrastada
da un uomo come te, come tepor um homem como você, como você
straniero, là nella notte atroceestrangeiro, na noite terrível
dove si spense la sua fresca voce!onde se extinguiu sua fresca voz!
La FollaMultidão
Da secoli ella dormePor séculos ela dorme
nella sua tomba enorme.em seu túmulo enorme.
TurandotTurandot
O Principi, che a lunghe carovaneÓ príncipes, que trazem caravanas
d'ogni parte del mondode todo o mundo
qui venite a gettar la vostra sorte,que aqui vem a jogar a vossa sorte,
io vendico su voi, su voieu vingo sobre vós, sobre vós,
quella purezza, quel grido e quella morte!aquela pureza, aquele grito e aquela morte!
Quel grido e quella morte!Aquele grito e aquela morte!
Mai nessun m'avrà!Nunca me terás!
Mai nessun, nessun m'avrà!Nunca, nunca me terás!
L'orror di chi l'ucciseO horror de quem matou
vivo nel cuor mi sta.está vivo em meu coração.
No, no! Mai nessun m'avrà!Não, não! Ninguém nunca me terá!
Ah, rinasce in me l'orgoglioAh, renasce em mim o orgulho
di tanta purità!de tanta pureza!
Straniero! Non tentar la fortuna!Estrangeiro! Não tente a sua sorte!
Gli enigmi sono tre, la morte una!Os enigmas são três, a morte uma!


● "Quando o Amor Vacila"

QUANDO O AMOR VACILA
autoria: desconhecida















(Poema declamado por Maria Bethânia. Veja no youtube)


"Eu sei que atrás deste universo de aparências,
das diferenças todas,
a esperança é preservada.

Nas xícaras sujas de ontem
o café de cada manhã é servido.
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,
e dela não me conformo.

Eu acredito em tudo,
mas eu quero você agora.

Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.

Amo teu jogo triste.

As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.

Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha
de fim de semana.

Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.

Eu te amo pelo que se repete
e que nunca é igual.

Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defenda,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor
vacila."