Após 30 anos, o casal Marianne e Johan se reencontra.
Vale comentar que não só na ficção, como na realidade, a história acontece 30 anos depois (Cenas de um Casamento, 1973 e Saraband, 2003).
Achei que Saraband seria semelhante ao Antes do Amanhecer (1994) e Antes do Pôr-do-Sol (2004) do Richard Linklater. No primeiro, o casal se conhece num trem, se diverte em uma noite em Londres e depois precisa partir e cada um seguir o seu rumo; no segundo, dez anos depois, o reencontro. Há toda aquela formalidade na primeira metade do segundo filme, mas com o passar do tempo, vai ganhando ritmo e o casal vai se abrindo e há aquela jogada de diálogos intensos, até beirar a um final aberto e inesperado.
No caso de Saraband foi bem diferente. Os diálogos de maior intensidade entre Johan e Marianne acontecem apenas no começo e no fim do filme. Ambos já estão velhos; entre alguns sarcasmos de Marianne e atitudes hostis de Johan, encontramos um casal mais maduro, com menos pretensão de discutir o fracasso que foram os seus respectivos casamentos.
Grande parte do filme é voltada a Henrik, filho de Johan. O passado entre pai e filho aos poucos vêm à tona; nesta confusão, entra Karin, filha de Henrik, que tem passado problemas com seu pai. De princípio achei que isso não poderia ser o foco que esperava em Saraband e que o filme se derraparia pra um final desastroso, mal resolvido e desconexo. Ainda bem que me enganei.
Não costumo tratar de termos técnicos nos meus comentários de filmes, mas é indispensável eu falar da atuação de Börje Ahlstedt (o Henrik). Suas cenas foram de longe as melhores.
Bergman utiliza de Saraband para dar um adeus a sua carreira brilhante em detalhes sutis ao mesmo tempo em que a trama se desenrola; mais uma vez vemos o nome Karin em alguma de sua personagem; mais uma vez Liv Ullmann no elenco; o tema da velhice presente; cores fortes -que é impossível não lembrar de Gritos e Sussurros (de sua autoria); a presença da música clássica de Bach; a própria reutililização de objetos que lembram momentos de Cenas de um Casamento; relacionamentos incestuosos; o medo da morte.
Ainda estou caminhando na “maratona Bergman”, mas creio que quando eu tiver assistido grande parte de sua filmografia e for rever Saraband, encontrarei elementos que deixei passar despercebido (e voltarei aqui para acrescentá-los).
Bergman se despediu com grande estilo. Adoro autorreferência (esse tipo de coisa que os grandes diretores costumavam fazer). Considero Saraband algo mais além que uma mera continuação de Cenas de um Casamento: é um presente aos fãs de Ingmar Bergman.
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